Especialização de Café em Seattle

Eu já era uma Barista apaixonada pelo que fazia há 1 ano, quando fui cobrir o Campeonato Mundial de Baristas em Tóquio (evento que aconteceu pela primeira vez na Ásia) para a então Revista que eu editava.Nem sabia o que eu iria encontrar lá!

Não tinha idéia da grandiosidade do campeonato e de repente me vi num lugar cheio de pessoas do mundo inteiro falando sobre café. Representantes de 55 países estavam presentes.

A Olho Vivo foi a revista que eu editei por 8 anos.

Me senti parte de tudo e soube que iria viver somente daquilo instantaneamente. Passei os 3 dias inteiros no evento, pesquisando, fazendo contatos (com o meu inglês até então bem fraco) e onde eu soube de um curso na minha área, que iria acontecer em Seattle.

No final do campeonato eu já sabia o que eu queria da vida e o que eu não era feliz no meu trabalho e foi nesse momento inspirador que dei uma guinada na minha vida.

Seattle, uma das cidades que mais crescem nos Estados Unidos.

Chegando em Seattle

No mês seguinte, com o meu primeiro visto americano em mãos, lá fui eu para a terrinha do Tio Sam, onde o meu objetivo era participar de um curso de especialização.

Nada muito novo dentro do que eu já sabia, porque havia tido um treinamento exclusivo com uma barista campeã, mas era algo a mais no meu currículo e o fator vaidade mais curso nos Estados Unidos ajudaram!

Vale ressaltar que Seattle tem uma tradição em escolas que formam baristas. Você encontra uma cafeteria em cada esquina. É uma cidade que respira café.

Foi lá que surgiu a maior rede de cafeterias do mundo: a Starbucks, que não era uma escola de baristas, não formavam baristas mas enfim, ao contrário de outras lojas da rede, em Seattle as pessoas que trabalhavam, te orientavam e tiravam qualquer dúvida em relação às bebidas ou aos grãos (estou falando no passado, porque houveram algumas mudanças desde então).

O curso de 3 dias, na International Academy of Specialty Coffee incluía teoria e prática.  Passei na parte prática, até arriscando fazer um pouco de Latte Art básico, mas travei na prova escrita, por não conseguir redigir as respostas em inglês corretamente.

O supervisor, percebendo que eu dominava o assunto, mas que o problema era não poder expressá-lo em inglês, me deu uma segunda chance no dia seguinte. Aí sim, noite em claro estudando e no final do outro dia, tava dentro! Me sentia feliz demais por ter vencido essa etapa.

Minha Experiência como Faxineira

Eu tinha pesquisado alguma referência de brasileiros para o caso de uma emergência.
Como era a primeira vez nos Estados Unidos e estava sozinha, nunca se sabe, não é?

E justamente essa referência era um mercado brasileiro com uma cafeteria, a  Kitanda Coffee Shop e o meu contato era a Rose (minha xará, só que na versão linda!)

O Toninho funcionário da loja que era amigo da Virgelania, compartilhavam uma casa e me chamaram para ficar hospedada com eles no período do curso, porque o local onde eu estava hospedada era bem perigoso a noite e feio para danar!

O local mais barato que encontrei custava 70 dólares a noite. Não poderia exigir muito por esse preço.

A minha forma de pagar pela hospedagem, era ir pra cozinha. Felicidade pura! Amo ir a mercados, preparar a minha própria comida, não gosto de fast food,  então não foi nenhum sacrifício. Os dias voaram. Curso durante o dia, novos amigos e de noite eu cozinhando. Quase uma família.

Uma amizade que começou por acaso e que dura até hoje.

Era o meu penúltimo dia e já tinha desistido de fazer compras. A grana estava curta e eu achava tudo caro. Mas então a Vigelania me disse que poderia me levar às compras onde tudo custava entre 10 e 20 dólares.

Mas… depois de fazer uma faxina, que era o trabalho dela.
– A faxina não levará mais de 2 horas, então eu te levo – ela disse.
– Então combinamos que eu a ajudaria e nisso ganharíamos 1 horinha.

Quando ela estacionou o carro em frente aquela casa imensaaaa, eu entrei em pânico!
“É faxina para 2 dias inteiros!”. Ela se divertindo e com toda a calma mineira do mundo, dizendo que estava tudo sob controle. E era verdade.

Fui faxineira por 1 dia mas foi o suficiente para aprender a limpar uma casa, sem neuras.

Aprendi no final daquele dia tão especial que podemos viver numa casa limpa e que não há necessidade de ficarmos esfregando tanto as coisas, jogando água com sabão em tudo, fazendo uma verdadeira lambança para mostrar que somos pessoas limpas.

Limpar é bacana, necessário, mas sem exageros.
Confesso que eu era uma pessoa insuportavelmente obcecada por limpeza, daquelas que deixava de sair para alguma festa para limpar a casa. Uma chata!

E as pessoas à minha volta com certeza sofreram com isso.
Aquele dia mudou radicalmente a minha forma de lidar com a limpeza.

Fizemos a faxina naquela mansão e em menos de 2 horas estava tudo brilhando!
Usamos lenços descartáveis umedecidos que já vêm com um cheirinho delicioso que deixa tudo perfumado, e eles são facilmente encontrados na rede Costco aqui no Japão.

Esses lenços umedecidos, encontrados na rede Costco limpam e perfumam a sua casa.

Aspiramos tudo. Tínhamos que cuidar para não pisar no carpete, andando sempre para trás,  deixando somente a marca do aspirador, nunca dos sapatos. Até hoje quando uso o aspirador em casa eu lembro disso…e além da saudade, tenho gratidão por ter me libertado de uma obssessão que só poderia piorar com o tempo.

Pronto! A patroa americana feliz e nós com passagem comprada diretamente para o shopping onde tudo era realmente muito barato e eu fiz a festa!

O que eu trouxe como aprendizado dessa viagem?

• Muito orgulho de mim mesma, porque tive a coragem de investir em um curso que me trouxe mais autoconfiança no meu trabalho como Barista.

• Foquei em estudar e melhorei o meu inglês.

• Voltei focada em encerrar um trabalho que já não me fazia feliz. No mês seguinte, fechei a revista, aliás, foi um golpe de sorte, porque no ano seguinte veio a crise, eu já estava vivendo o meu sonho e viajando bastante.

• Não perco mais grande parte da minha vida limpando excessivamente o que vai sujar depois. Limpo e cuido da minha casa sem neuras.

• Aprendi a não ser tão desconfiada. Existem sim, pessoas boas pelo mundo e tenho muita gratidão por todos os que eu conheci, pela generosidade em me ajudar, sem me conhecer.

E a Vigelania? Uma pessoa querida, com um coração do tamanho do mundo, que fez parte da minha trajetória como Barista e somos amigas até hoje!

Atualmente ela mora em Portugal. Já nos encontramos na linda Lisboa e estamos planejando nos ver em breve, onde brindaremos a amizade, a vida, daremos muitas risadas, acompanhada de doses generosas de vinho tinto, bacalhau na brasa e pastéis de Belém!

2 Comentários


  1. Muito lindo sempre e bom viajar e aprender coisas novas e pessoas especiais , sucesso miga abracos

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    1. Oi prima/amiga, sim muito bom, ter coisas boas para contar. Você que trouxe a minha memória toda essa história, quando encontrou os lenços umedecidos no Costco. Arigatoooo, bjoss!

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