Toda história tem um começo, meio e fim, mas essa que vou te contar hoje podemos considerar uma exceção, ela não terá um final.
Como sabem, eu moro no Japão, e sempre soube que existiam agriões nos rios, mas até então nunca os havia encontrado. Até porque eu cheguei a procurar bastante, até perguntei, mas ninguém sabia me explicar qual seria a melhor época e como encontra-los mais facilmente. Então não foi por falta de tentativas!
ATÉ QUE ACONTECEU….
Em um dia, totalmente ao acaso – ao acaso mesmo! – eu estava com meu tios e por pouco quase pisamos em uma moita enorme e linda de agriões frescos, bem na margem de um rio.
Isso aconteceu no auge da pandemia, então todos os passeios que fazíamos precisava ser ao ar livre, aí você imagina a minha sorte de achar os agriões nesse dia. Foi um grande evento!
E não deu outra, o cardápio em casa por vários dias foi recheado de pratos com agrião. Tivemos salada de agrião, talo de agrião refogado, vinagrete de agrião, uma delícia atrás da outra. Principalmente esses que eu colhi diretamente da terra, então não passaram por nenhum processo industrial, não tiveram contato com agrotóxicos e nem contaminação.
Não tem nem como falar do agrião e não citar os seus benefícios. Além de uma delícia, essa verdura trás inúmeros benefícios para a nossa saúde e recentemente um estudo publicado pela revista científica Preventing Chronic Disease (CDC), apontou o agrião como um dos alimentos mais ricos em nutrientes do mundo!
E olha só: na lista de 41 alimentos colocados em estudo recentemente, o agrião recebeu nota máxima de 100, ficando entre as primeiras colocações dos alimentos estudados. No ranking ele ganhou de alimentos como a couve chinesa (91,99 pontos), a acelga (89,27 pontos) e o espinafre (86,43 pontos).
PODERES DO AGRIÃO
- Melhora a perfomance nos treinos
- Contribui para a imunidade
- Favorece a saúde da pele
- Ajuda a controlar o diabetes
- Faz bem ao coração
- Ativa o metabolismo
- Rejuvenesce as células
- Faz bem para os olhos
- Fortalece os ossos
- Anti-inflamatório natural
MEUS PRÓPRIOS “BERÇÁRIOS”
Voltando à minha história…acabei voltando naquele lugar mais vezes sempre para colher os agriões e, deixando as raízes para que pudessem crescer seguindo o curso da natureza.
Tive vontade de ir mais vezes, mas o rio é longe de onde eu moro – e isolado – acabava levando quase 2 horas de carro para chegar lá. Pensando nisso, tive a ideia de trazer algumas raízes para plantar em um rio mais próximo – 1h de carro – um lugar que costumo chamar de meu, do tanto que vou lá.
Fiz todo o preparo do lugar que chamei de minha “mini plantação”, coloquei pedras ao redor das mudas para que não se soltassem do lugar e pudessem fixar suas raízes em paz.
Marquei um mês certinho no calendário, para que elas pudessem brotar e nesse meio tempo ficava fantasiando como elas estariam. Estávamos em plena pandemia, então toda loucura é aceitável, não é?
Quando chegou o dia, um mês depois, saí de casa bem cedo, estava muito animada e ansiosa para ver como estava a minha plantação. Mas ao chegar lá… decepção! Não tinha nada, nem uma mudinha inteira sequer.
Tudo o que eu estava esperando não deu em nada. Não queria aceitar. Então depois desse momento de decepção, comecei a andar, seguindo o fluxo da água para ver se tinha alguma muda enroscada. E para a minha surpresa, uns 1000 metros abaixo, encontrei todas elas: estavam lindas, verdes e crescendo muito! Fiquei tão feliz, nem acreditava que tinha dado certo!
Foi assim que me animei e comecei a fazer mais mudas, criar o que chamei de “berçários” e passei a espalhá-los onde desse. Alguns deram certo, outros não. Aos poucos, fui entendendo como elas se adaptavam melhores em determinados lugares e em quais estações crescem mais. Elas não gostam do verão e é nesse momento que tenho que cuidar mais, para que o mato não tome conta de tudo. Tenho até um kit agrião que sempre está comigo no carro: chapéu, bota, muito repelente, enxada e sacos para colheita.
Particularmente eu adoro fazer isso, o tempo que passo nessa atividade não tem preço. É como um tipo de terapia. Meu marido não gosta desse tipo de programa, e eu prefiro mesmo é ir sozinha. Desligo do celular e tenho tempo para apreciar minha companhia. Quer coisa melhor?
Depois que finalizo meu trabalho aproveito para comer um lanchinho e tomar um café preparado na hora, apreciando o barulho da água corrente e dos pássaros, com muita paz, claro!
A pandemia foi algo pesado, acredito que para todos nós, e os agriões me ajudaram a passar por esse momento, me levaram a aventuras e abriram portas para lugares lindos escondidos no meio do mato, um deles até veio para o blog. VEJA AQUI
Sou vegetariana há quase 6 anos, e é algo que para mim não tem volta. Descobri que meu propósito na vida é ensinar sobre cafés, respeitar os animais, a natureza e trazer saúde para as nossas refeições.
Sempre que eu faço as minhas colheitas – eu não vendo – faço doações para as pessoas próximas, para que tenham a oportunidade de fazer bom proveito de algo, que faz tão bem para a nossa saúde.
E quando eu comentei que essa história não teria um final, era verdade! Isso porque as raízes dos agriões não morrem, mesmo com o inverno rigoroso do Japão.
Elas costumam voltar à vida na primavera, mas o clima tem sido muito instável nos últimos meses. Elas estão brotando como nunca e crescendo rapidamente. E quando chegar a temporada de chuvas, as mudas menores vão seguir o fluxo do rio, vão começar novos arbustos rio abaixo e fico feliz de estar contribuindo com isso.
Viram que estou entendendo do negócio, heim?
Espero que mais pessoas possam se deparar com arbustos enormes e lindos de agrião, seja por acaso ou depois de procurar muito, e que assim como eu, fiquem felizes e alegres com isso. Em tempo: eu não passarei a localização de nenhum ponto.
Cada pessoa tem a sua forma de olhar para o céu, olhar para o lado bom da vida mesmo quando alguns momentos se fazem muito pesados. Essa é a minha forma.Espero que tenha gostado da minha história.